5 Formas de Acabar no Limbo dos Quadrinhos




Quem comprou o último encadernado da fase do Grant Morrison em Homem Animal deve ter ficado levemente curioso sobre aquele lugar pacato e mal frequentado onde nosso querido Buddy Baker cruzou com um macaco morto no colo para encontrar seu criador, que no fim era o Morrison em pessoa...


... Ah, acabei de contar o final da história? Err...


Bom, esse pedacinho de chão mal colorido trata-se do LIMBO DOS QUADRINHOS! Um lugar onde absolutamente nada de relevante acontece, todos que o visitam esquecem de sua estadia e frequentado quase que exclusivamente por personagens de histórias em quadrinhos esquecidos e não mais publicados. Esse conceito metafísico foi criado por Keith Giffen para a revista do Besouro Bisonho e resgatado no pós-Crise pelo nosso escocês careca predileto e desde então só deu as caras em Crise Final, do mesmo autor.


"Mas Errow, seu deceneco safado, como um personagem acaba parando em um local que lembra tanto a vida noturna de Brasília", você deve estar se perguntando. Sem mais delongas:


1- VOCÊ SE TORNOU REDUNDANTE




Muito comum em revistas com décadas de publicação que certos conceitos e personagens sejam revisitados e readequados pros novos tempos para poderem ser usados e explorados por mais e mais décadas. Vimos isso acontecer em maior e menor escala com todo grande figurão dos quadrinhos, pro bem ou pro mal.

Mas e quando em vez de te resgatarem do passado e te darem nova roupagem resolvem simplesmente usar o seu conceito em um outro e inédito personagem? Foi o que aconteceu ao pobre doutor Schivel ou Sr. Zero, cientista maluco e primeiro entusiasta do frio da galeria de vilões do Batman.

Tudo estava ótimo para ele, afinal aparecia regularmente tanto nos quadrinhos como no lendário seriado dos anos 60 (onde foi rebatizado como Sr. Frio), então era meio que garantido que ele perduraria como seus parceiros Charada, Coringa, Pinguim e Mulher-Gato. 


"Hahaha nada pode dar errado, bicho"


Mas eis que ele foi sendo progressivamente esquecido após o fim do seriado, a ponto de voltar para os quadrinhos só depois da Cri... não, pera.

Ele não voltou.

Aconteceu que na década de 1990 um velho conhecido dos nerds, o senhor Paul Dini, criou um novo Sr. Frio para a série animada do morcego. Victor Fries era um criogenicista brilhante atormentado pela condição de saúde de sua esposa e que buscava em sua área de estudo uma forma de conservá-la congelada até que a cura para sua condição fosse descoberta. Mas tudo deu dolorosamente errado e isso rendeu um personagem altamente trágico, complexo e vários Emmys para os episódios centrados nele.

Obviamente que a DC Comics não pensou duas vezes em adotar esse novo Sr. Frio nos quadrinhos desde então, relegando o pobre Sr. Zero AO LIMBOOOOOOO.


Sim.


2- VOCÊ JÁ CUMPRIU SUA FUNÇÃO


Muitas vezes personagens são criados apenas para determinada história, e poucos tem a sorte de passarem disso e virem a ser mais desenvolvidos e adquirirem relevância. Alguns estão tentando pelo cansaço há décadas COF COF Bane COF COF, mas a regra continua sendo morrer na praia ou de forma horrível em alguma história do Geoff Johns.

Vejamos por exemplo esse belo trio de formosas moçoilas, as Dançarinas da Lua:




Elas foram criadas exclusivamente para uma história da revista Melhores do Mundo (não confundir com o... grupo de teatro) sobre Superman e Batman reatando a amizade após o último sair brigado da Liga da Justiça e formar Os Renegados...

... basicamente porque essas três surgiram do nada e infectaram o morcegão com um vírus lunar desconhecido, deixando ele às portas de conhecer JC. O medo de perder o amigo fez o coração do Azulão amolecer, conseguiram encontrar a cura e ainda deu tempo de surrar as Dançarinas da Lua pra fora do planeta!

Fim da história, todos vivos e felizes, e o que fazer com essas três novas e interessantíssimas personagens a partir de então? Essa pergunta intrigou roteiristas da DC Comics por décadas até que mentira, simplesmente esqueceram completamente delas.

As coitadas estão até hoje vagando PELO LIMBOOOOOO sem rumo, nem a navezinha maneira em forma de lua crescente. Triste fim, mas missão cumprida. Aposto que Superman e Batman não brigaram mais depois dessa história.


"Que história é essa de 'você sangra'?"


3- NÃO TEM COMO TE ADEQUAR AOS NOVOS TEMPOS


Quando não para histórias específicas, certos personagens são criados para refletir o contexto histórico do momento: moda, costumes, avanços sociais e científicos, novo vocabulário, assuntos em voga...

Pantera e Luke Cage surgem num contexto de lutas por direitos civis dos negros americanos, Barry Allen se torna o Flash num contexto de corrida científica na Guerra Fria, Mulher-Maravilha surge quando o feminismo começa a tomar de assalto o meio acadêmico, o Cable... bem, um pedido de desculpas não faria mal por essa atrocidade.

Quando o escritor escreve o personagem exclusivamente para conseguir apelo do público descolado, é quase inevitável que ele se torne eternamente atrelado a uma época específica e se torne inútil e ridículo quando publicado fora dela. Vimos isso com uma centena de X-Men, com uma profusão de personagens inspirados em Disco Dance nos anos 1970 e com esse alegre habitante do Limbo que apresentarei para vocês agora:




Keith Everet, jovem irlandês do século XVI, estava a caminho de pedir sua namorada em casamento quando foi brutalmente assassinado por ladrões de estrada. No pós-vida, ele encontra seus ancestrais e estes conseguem fazê-lo retornar ao mundo dos vivos para cumprir sua VINGANÇA contra os pulhas que o mataram, por meio de sucessivas possessões a corpos alheios.

Conceito até que interessante, né? Lembra o Desafiador e o item 1 desse artigo, mas o que pegou mesmo foi o nome de guerra do personagem. Na época não tinha nada de mais, mas hoje em dia e com diálogos como o da imagem acima, o risco de ser mal-interpretado é grande.

Como uma imagem com três palavras em vermelho vale mais que... han... vejam por si mesmos:


"Isso quer dizer que eu posso entrar no seu corpo."


A DC chegou a mudar o nome dele para "The Grim Ghost", mas simplesmente não pegou. A quarta-série residente na mente de toda a sociedade tornou o personagem impraticável nos tempos atuais, e ele próprio tem consciência disso. Como a palavra "gay" mudou de sentido desde sua publicação em 1940, ele prefere ficar esquecido mesmo a ser alvo de mal-entendidos.




4- SEU CONCEITO É RIDÍCULO


Todos os itens anteriores tiveram a vantagem de pelo menos terem feito sentido em alguma época ou situação específica. E quando você é um personagem estragado desde o princípio e parece ter sido pensado por um escritor que quase teve uma overdose de álcool em gel e com uma diarreia explosiva?

Conheçam o Abelha Vermelha:




Rick Raleigh era um procurador distrital que adotou um peculiar modus operandi na hora de combater o crime e soldados nazistas. Basicamente ele andava por aí com uma pistola que soltava projéteis em forma de ferrão e com abelhas amestradas dentro de seu cinto, que eram utilizadas para livrá-lo de todo tipo de encrenca.

Podem parar de rir agora. Estou falando sério. Confiram abaixo:


Uma mão na roda na hora de se barbear


Obviamente que esse personagem jamais deslanchou, caiu no ostracismo e só tem saído de lá para ser alvo de piadas maldosas de autores sádicos e sem piedade no coração. Acho que esse foi o único motivo da DC Comics ter adquirido os direitos do Abelha Vermelha em 1956, inclusive. Trágico.


Sua hora de brilhar ainda vai chegar, amigão!


5- TODAS AS ALTERNATIVAS ANTERIORES

Pera aí. Você é redundante, já cumpriu sua função, não tem como se adequar aos novos tempos e seu conceito é ridículo?

Então há uma grande chance de você fazer parte do Inferior Five!

Isso é um acidente de caminhão com vítimas 
em forma de personagens de HQ

O Inferior Five foi concebido como uma paródia do Quarteto Fantástico ou de qualquer outra equipe de heróis cujos membros tem poderes o suficiente para deter qualquer tipo de crime, mas não conseguem se estiverem sozinhos. Seus membros seriam filhos da Brigada da Liberdade, equipe lendária de heróis aposentada há vinte anos e uma sátira extremamente sem-graça e mal disfarçada da Liga da Justiça.

Tecnicamente era pra ser uma história engraçada e relevante, mas o forte fedor exalado pela equipe fez com que a DC alocasse eles em uma terra paralela (Terra 12) para não embostear personagens importantes da Terra principal, como o Snapper Carr.


Maldito seja Snapper Carr!


Não por um acaso, os membros do Inferior Five viraram meio que os porta-vozes e guias turísticos do Limbo. Seu líder, o Espirituoso, inclusive ostentou o cargo de rei do Limbo durante Crise Final ao se apresentar para o Superman. Ou seja, de todos os personagens condenados ao ostracismo, eles foram tão ruins que se destacaram e conseguiram a vitória entre seus semelhantes.


Se isso não é vitória, eu não sei o que é.


Hasta luego, maricones!

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